Noiva de Oruam discursa na Comissão de Direitos Humanos após prisão do cantor: ‘Ele não é bandido’

Fernanda Valença (reprodução Instagram)
Fernanda Valença (reprodução Instagram)

Fernanda Valença, noiva do MC Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido como Oruam, participou de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para defender o direito de artistas periféricos à liberdade de expressão. O músico, preso desde o dia 24 de julho, se entregou à polícia após um episódio envolvendo agentes civis durante uma operação em sua residência no Joá, na Zona Oeste do Rio. A influenciadora discursou na Comissão de Direitos Humanos da Alerj, durante a audiência “Direito à produção artístico-cultural de favela!”, organizada pela deputada Dani Monteiro.

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Oruam está detido há 14 dias na Penitenciária Dr. Serrano Neves. Após o período de triagem, ele foi transferido de uma cela individual para uma galeria comum com mais de 140 detentos. Atualmente, divide uma cela com outros oito presos. Durante a audiência, Fernanda defendeu o noivo e criticou a forma como artistas negros e de comunidades são tratados pelas autoridades.

Funk e criminalização: “Cantar a favela não é crime”

A influenciadora afirmou que Oruam expressa por meio da música suas próprias vivências e as de outros moradores da periferia. “Mauro canta suas próprias dores, alegrias e vivências, e muitas vezes empresta sua voz para dar vida à realidade de outras pessoas. Isso não deveria ser normal no meio artístico? Durante muito tempo, a sociedade tenta criminalizar a cultura negra e periférica (…) Mauro nunca foi o que tentam, a todo custo, fazer dele. Ele não é bandido! Ser MC não é ser bandido! Cantar a realidade da favela, de pessoas pretas ou seja, a realidade do Brasil  não te faz bandido. Mas agora podemos ver que isso te torna alvo”, disse Fernanda, visivelmente abalada.

Além dela, outros nomes do funk, como Chefin, Borges, MC Nem e MC Frank, participaram da audiência. Fernanda ainda destacou que a luta não é apenas por Oruam, mas representa muitos outros artistas discriminados por sua origem e trajetória. “Essa luta vai muito além da nossa história pessoal. Ela carrega o peso de tantos outros artistas que foram e ainda são discriminados, criminalizados e silenciados simplesmente por sua origem, cor da pele e por contarem a verdade em forma de música, de arte”, afirmou Fernanda.

Diante dos acontecimentos, a deputada estadual Dani Monteiro e o deputado federal Pastor Henrique Vieira apresentaram projetos de lei com o objetivo de garantir liberdade artística, proteger a cultura popular das periferias e impedir qualquer forma de censura. Outro caso recente semelhante é o do cantor Poze do Rodo, também detido por suposta apologia ao tráfico em suas músicas.

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Entenda o caso da prisão

Oruam foi alvo de um mandado de prisão após um adolescente procurado pela Justiça fugir da viatura da polícia civil durante uma operação na casa do rapper. Segundo a DRE, o cantor e outras pessoas teriam apedrejado a viatura, o que permitiu a fuga do jovem por uma área de mata. Um dos envolvidos, Paulo Ricardo de Paula Silva de Moraes, conhecido como Boca Rica, foi detido em flagrante. O adolescente se apresentou posteriormente e voltou ao cumprimento de medidas socioeducativas. A Justiça destacou que não havia ordem vigente de internação contra ele e autorizou sua permanência no regime de semiliberdade.

Se condenado, Oruam poderá responder por resistência, desacato, ameaça, dano ao patrimônio público e associação ao tráfico, com penas que, somadas, podem ultrapassar 18 anos de prisão.

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