No dia 4 de agosto de 1926, um episódio marcou profundamente a história cultural da Coreia. A cantora soprano Yun Sim Deok, pioneira em sua área, e o dramaturgo Kim Woo Jin, casado na época, tiraram suas próprias vidas em um ato que repercutiu como um luto coletivo em todo o país. Décadas mais tarde, essa história de amor e dor inspirou o dorama “Louvor à Morte”, lançado em 2018 e disponível atualmente no catálogo da Netflix.
O drama, protagonizado por Shin Hye Sun e Lee Jong Suk, traz à tela a intensidade do relacionamento que nasceu durante a ocupação japonesa na Coreia, em um contexto de opressão e mudanças sociais profundas. Com apenas três episódios, a produção recria o romance que, embora curto, foi marcante, misturando fatos reais com emoção artística.
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A trajetória de Yun Sim Deok e o encontro com Kim Woo Jin
Yun Sim Deok nasceu em 25 de julho de 1897, em Pyongyang, e desde cedo demonstrou talento e determinação incomuns para as mulheres de sua época. Em 1914, ingressou no Kyongsong Women’s Teaching College, em Seul, e anos mais tarde se tornou a primeira coreana a estudar na Escola de Música de Tóquio, no Japão. Foi nesse período que conheceu Kim Woo Jin, encontro que mudaria sua vida para sempre.
Sua estreia como soprano aconteceu em 1923, conquistando reconhecimento, mas a dificuldade em viver exclusivamente da música clássica ocidental a levou a buscar novas alternativas. Ela passou a se dedicar ao canto popular e à dublagem, conquistando espaço em um cenário musical que começava a se abrir para novos estilos.
No entanto, a vida pessoal de Yun tomou um rumo doloroso. Em meio às pressões sociais e ao relacionamento intenso com Woo Jin, ambos decidiram, em agosto de 1926, dar fim às próprias vidas. O ato chocou a sociedade da época, tornando-se não apenas uma tragédia pessoal, mas também um marco histórico.
O legado deixado por “In Praise of Death”
Pouco antes do episódio trágico, Yun gravou a canção “In Praise of Death”, acompanhada ao piano por sua irmã. Inspirada na melodia “Waves on the Danube”, de Ivanovici, a música ficou marcada como a primeira canção pop coreana. Depois da morte da cantora, a obra se transformou em uma espécie de testamento artístico, ganhando status de memória cultural e sendo lembrada até os dias atuais.
O dorama “Louvor à Morte”, dirigido por Park Soo Jin, recria esse relacionamento com riqueza de detalhes, explorando não apenas o romance, mas também a carga histórica que envolve a Coreia sob o domínio japonês. A produção destaca o contraste entre a carreira promissora de Yun, a vida familiar de Kim Woo Jin e o peso de suas escolhas.
Mais do que uma simples história de amor, o drama apresenta ao público a trajetória de uma mulher à frente de seu tempo e o impacto de sua voz, que mesmo após sua morte precoce, permaneceu viva através da música. Como enfatiza a própria trama, o legado de Yun Sim Deok transcende a tragédia, consolidando-a como uma das figuras mais lembradas da cultura coreana.