Tieta foi ao ar originalmente em 1989/1990, de lá pra cá, muita coisa aconteceu. A reprise da trama acontecerá nesta segunda (2), no Vale A Pena Ver de Novo.
Betty Faria, a eterna Tieta e que interpretou a protagonista da história, acredita que o Brasil atual está pior que Santana do Agreste, a cidade bastante moralista e conservadora, onde sua personagem viveu.
“A gente vive numa fase de muita hipocrisia, censura de pensamento e palavras. Temos que tomar muito cuidado. Nos tempos de Tieta, não tinha internet, fake news… Tenho que medir as palavras para não refletir minha tristeza com o o atual momento do Brasil, quero mostrar a Tieta como uma mensageira da luz”, disse.
“Hoje não se pode falar nada. Eu vivi a ditadura e trabalhei em obras censuradas. Agora a censura é em outro nível. Tem criancinha que sai do supermercado e leva um tiro no peito. Dois dias depois, ninguém mais fala disso”, lamentou Betty Faria.
Questionada se o Brasil teria se tornado uma Santana do Agreste, ela comentou e riu. “Não… É muito pior. Agora é outra época. Agora tem ameaças de guerras, inclusive internas. A gente vive a banalização do crime. Me preocupo com o Brasil que meus netos vão viver daqui a dez, 15 anos. Para um país dar certo, tem que ter cultura e educação”, frisou ela.
“Quando fui gravar numa favela, as crianças ficavam soltas e iam procurar um traficante porque ele tinha colar de ouro, comia a mulher, usava perfume, dançava funk… O traficante vira referência pra eles. Eles deveriam estar no colégio com alimentação. As pessoas estão muito acomodadas. Acham normal criança morrer com bala na cabeça. Se o Brasil fosse Santana do Agreste, Tieta mandaria fazer uma grande fogueira de armas”, contou.
A eterna Tieta explicou que a novela pode conquistar um público novo e que não acompanhou a exibição original da novela, além de mostrar os conflitos morais da época.
“[Tieta vai fisgar o telespectador por] Valores morais, de amizade e desprezo pelo fingimento. É engraçado pensar nas pessoas mais novas que vão assistir pela primeira vez. Em Portugal, quando passou Tieta pela primeira vez, teve um movimento conservador católico contra a novela por causa da relação dela com o padre [a atria se refere ao envolvimento de sua personagem com Ricardo, um jovem seminarista interpretado por Cássio Gabus Mendes]”, contou.
“O público jovem deve aceitar porque não é careta. Eu lido muito com os jovens porque eu tenho quatro netos recém-saídos da adolescência, de 18 a 22 anos. Eles não são tão liberais como a geração dos anos 80, mas ficam contentes quando assistem às histórias de amizade, contou Betty Faria.
Betty conta que sente muita saudades do elenco. “Falo muito com Paulo Betti. Gostaria muito de reencontrar a Lidinha [Lídia Brond]. Ela se casou com o Cássio [Gabus Mendes] e fez uma vida em São Paulo. Gosto muito dela. Foi uma companheira muito boa”, contou.