No ar na reprise da novela Tieta (1989), Paulo Betti comprovou um padrão novo nas novelas da TV Globo; não existe mais a discussão política de outros tempos. De acordo com ele, as tramas de hoje não debatem mais sobre o atual panorama do Brasil, como acontecia em enredos de antigamente.
No entanto, embora muitas obras antigas da TV Globo não fizessem a discussão política de forma direta, havia menções e referências e datas históricas do Brasil – como aconteceu em Tieta, que foi expulsa de casa no dia 13 de dezembro de 1968, data que foi outorgado o AI-5, o mais duro da Ditatura Militar (1969-1985).
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“A TV brasileira devia falar mais próximo da realidade. Por exemplo, assistindo a uma novela das nove, você não tem um momento em que alguém no bar tá discutindo política, mencionando Lula, Bolsonaro ou [Arthur] Lira. Seria interessante se houvesse a citação nominal de personagens”, frisou ele em entrevista ao F5.
Tieta e política
“Uma novela, mesmo que não se passe no momento em que ela está acontecendo, vive muito da pulsação do bastidor, do camarim. E o nosso camarim de Tieta era altamente politizado. Armando Bógus [1930-1993], Paulo José [1937-2021], Yoná Magalhães [1935-2015], Betty Faria, Joana Fomm, José Mayer…”, contou.
Na trama de Tieta, o ator vivia o Timóteo, que foi um personagem engraçado e, ao mesmo tempo, tinha como objetivo a desmistificar hipocrisias da sociedade… “Foi certamente o meu personagem mais popular. Então, fico feliz de revê-lo. Fico estimulado a relembrar o momento político que atravessávamos enquanto fazíamos Tieta”, contou.
A novela foi gravada no ano na qual o Brasil fez sua primeira eleição direta, após 25 anos de Ditadura Militar. Assumidamente petista, desde essa época apoia Lula, na época, o candidato do PT disputou a presidência com Fernando Collor de Mello e perdeu.
“Você vê a minha família, as minhas irmãs, trabalhando na fábrica. O Lula era o cara que trabalhava na fábrica. Eu sabia o que era o torno, o que era um serrote, um martelo, uma plena, uma chave de fenda. Eu estava organicamente empenhado na vitória de Lula”, frisou o ator.
Paulo afirma que é descendente de um povo bastante humilde, que veio da Itália para o Brasil, em busca de novos rumos, após uma crise. “Nasci e fui criado no quilombo, em Sorocaba. Minha mãe era uma mulher de 45 anos e usava um lenço na cabeça, parecia uma mulher de 70, 80. Era benzedeira. Meu pai tinha esquizofrenia”, revelou o artista.